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As tão necessitadas férias estão em curso! Sentir que depois de um ano de intensa atividade, de muito trabalho desenvolvido, de muitas crises resolvidas e a resolver, pelo menos a uns dias de descanso temos direito. Isto não é bem verdade pois hoje em dia não é possível estarmos afastados de todos os processos que continuam a decorrer e que hoje, com as tecnologias existentes, nada impede de ir gerindo (e com algum prazer pode-se dizer). Assim, o presente artigo, devidamente calendarizado, suscita-me um texto sobre as minhas leituras de verão. Sempre gostei de conhecer aquilo que as diversas pessoas que conheço ou admiro identificam como as suas escolhas de literatura, música e cinema. Enfim, sempre fui, na boa linha do que Umberto Eco descreveu no seu livro “A vertigem das listas”, um fã de boas listagens que me identificassem boas escolhas para mim próprio.

Pois, neste verão cada vez menos encarado como de “silly season”, dei por mim a ler dois livros que me fazem pensar sobre a nossa situação específica como país (reservo-me para mais tarde, numa altura menos “silly” a leitura do “Porque Falham as Nações – as origens do poder, da prosperidade e da pobreza” de Daron Acemoglu e James A. Robinson).

Esses livros são “A Arte de Pensar com Clareza – 52 erros de raciocínio que não devemos cometer” de Rolf Dobelli e “Adapte-se – o Sucesso começa sempre pelo Fracasso” de Tim Harford. Obviamente que não é minha pretensão fazer qualquer tipo de resumo destes livros mas simplesmente de desafiar outros a lê-los e porque não alguns dos dirigente e políticos deste nosso país. Em primeiro lugar é de referir a importância que nos dois livros é dada ao erro e às (in)capacidades cognitivas que nos levam a mantê-lo e a não nos apercebermos de situações em que um simples cálculo matemático nos permitiria tomar decisões mais racionais. Dizer de alguém que foi sempre coerente e que defendeu as suas teses até à morte é muitas vezes considerado um elogio. Pois, sei que só não erra quem não tenta. E que saber reconhecer um erro (ou que uma outra via poderia ter mais sucesso), principalmente se esse reconhecimento ainda tem efeitos futuros profícuos, é mesmo uma das maiores virtudes.

Em segundo lugar, é necessário compreender e fazer passar a mensagem que o sucesso tem sempre associado a si o fracasso. E este é outro paradigma que é importante transmitir nas nossas escolas. Já se fala muito de empreendedorismo desde o ensino básico, mas temo que por vezes se transmita uma ideia de que basta querer criar algo. As escolas em geral e as de gestão em particular têm de saber ajudar a criar negócios mas têm também de ensinar a “matar” um negócio quando se sente que o mesmo não gerará os resultados esperados ou necessários para uma sobrevivência saudável e um investimento no futuro. E, infelizmente, vivemos ainda no estigma de que determinada pessoa liquidou a sua empresa ou que conduziu o seu negócio à falência, ou mesmo que entrou em insolvência pessoal. Pois bem, salvaguardando as situações de ações dolosas ou até criminosas, saber retirar a tempo é uma virtude.

Reconhecer que se assumiram demasiados compromissos quando estávamos de boa fé e que alguém em nós apostou e que as coisas não correram bem e solicitar os apoios legais para apoiar a reestruturação da sua dívida, é um ato de boa e sã gestão. E quando qualquer gestor e cidadão perceberem que não é por encontrarem estórias de insucessos no passado de alguém que faz desse alguém incapaz para um cargo público mas que, pelo contrário, é o capital de aprendizagem que essa pessoa teve (e o próprio escrutínio que terá de futuro) que permite que as suas decisões sejam mais ponderadas e que a probabilidade de insistir em eventuais erros de julgamento seja menor.

Querer ter a tomar decisões sérias e de responsabilidade indivíduos sem histórico de insucessos é, salvo honrosas exceções, dar um cheque em branco sem se ter consciência dos riscos que se corre (seja pela inação seja pela ação incorreta). E mesmo nos casos que atrás refiro de “honrosas exceções” poderão levar-nos a ser dirigidos por indivíduos que se julgam sobre-humanos e incapazes de errar. E isso é, no meu modesto entender, muito perigoso. Adaptando uma frase bíblica: quem nunca errou que atire a primeira pedra!

E a propósito de Bíblia, sabia que Johannes Gutenberg, que produziu o famoso livro sagrado que hoje tem o seu nome e que revolucionou a imprensa, foi à falência por este mesmo projeto? Eu não o sabia e este é um dos exemplos que vem descrito no livro de Tim Harford. Boas leituras!

Carlos Vieira
Administrador ISG
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(Artigo escrito de acordo com o novo acordo ortográfico)

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