“Os líderes competentes – e esta é a minha conclusão insofismável – dispõem de valores genuínos, nos quais arrimam o seu pensamento e a sua acção.
Estes valores são o capital imaterial mais valioso que podem possuir e, portanto, não há liderança possível nos países, nas empresas ou noutras organizações sem valores, especialmente os da honestidade, autenticidade e coragem. Não conheci nenhum líder, respeitado no mundo, no país ou numa empresa que abdicasse dos seus valores quando surgem as dificuldades – na política, nos negócios e na vida, a prova dos nove sobre o carácter de alguém só se tira após uma derrota e um verdadeiro líder não se deixa cair, absorve o impacto e aprende continuamente”. Belmiro de Azevedo (in Excelência Organizacional, 2013, pp. 33)
Ao escrever um capítulo sobre Liderança nas Organizações para o livro Excelência Organizacional ** convidei o Eng.º Belmiro de Azevedo para que fizesse o prefácio. No presente artigo pretendo partilhar algumas das ideias sobre liderança que tive a oportunidades de trocar com ele por ocasião do lançamento do livro que decorreu no Instituto Superior de Gestão.
O tema da liderança é uma das mais antigas áreas de investigação em ciências sociais e, simultaneamente, uma das mais problemáticas. O que é necessário para se ser um líder? Serão os líderes diferentes dos não-líderes? Nascemos líderes ou tornamo-nos líderes? Consoante os contextos/culturas serão desejáveis líderes com características diferentes ou poder-se-á falar num tipo de líder ideal/universal? São questões como estas que investigadores, historiadores, gestores, jornalistas e romancistas têm procurado dar resposta ao longo dos anos.
O estudo da liderança atravessou, ao longo dos anos, várias abordagens explicativas: abordagens dos traços (1930-1950), onde a liderança se resumia às excecionais aptidões e características de personalidade do líder; as abordagens comportamentais (anos 60) onde eram descritos estilos de liderança com base nos comportamentos do líder; as abordagens contingenciais (1970-1990) dando ênfase aos aspectos situacionais e relações líder-liderados e as atuais abordagens da liderança carismática e transformacional.
Belmiro de Azevedo acredita que nenhum líder nasce líder bem como não poderemos identificar um perfil universal de líder ideal. De acordo com a sua reflexão é possível desenvolver competências de liderança caso se assumam funções de responsabilidade e poder. O desenvolvimento destas competências consegue-se através do confronto com processos de tomada de decisão complexos. Fala-nos também de um aspecto determinante na liderança genuína que se prende com a disponibilidade do líder para sacrificar os seus próprios interesses em prol dos interesses colectivos (empresa, ONG, país).
Belmiro de Azevedo teve a capacidade para inspirar nos seus seguidores elevados níveis de empenho, dedicação e esforços-extra, que impulsionaram a organização para elevados desempenhos, submetendo-a a grandes processos transformacionais adaptados às mudanças da envolvente. Claramente orientado para o sucesso e proativo na procura das oportunidades de negócio, focaliza-se sempre, ao longo da sua carreira, em ultrapassar os seus objetivos. Tem uma grande necessidade de auto aperfeiçoamento e do alcance de um padrão interno de excelência. A SONAE foi uma aposta de Belmiro de Azevedo para a posteridade e o seu sucesso e consistência transmitem uma inspiração para aqueles que o rodeiam.
Em relação à sua liderança, baseada em valores como a coragem, integridade e confiança, a verdade é que Belmiro de Azevedo irá ficar na história como alguém que transformou uma pequena empresa, num dos maiores e mais importantes grupos económicos.
Num dos últimos dias de novembro de 2017 morreu o Engenheiro Belmiro de Azevedo mas nas aulas de liderança continuará vivo também como o Homem SONAE!
RIP Belmiro de Azevedo
Código de conduta do Homem SONAE
- O Homem SONAE ou é líder ou candidato a líder.
- O Homem SONAE é culto, evoluindo do estágio de competência técnica para o estágio de homem culto em geral.
- O Homem SONAE deve ter disponibilidade temporal e resistência física para vencer períodos de responsabilidades mais intensos.
- O Homem SONAE deve ter disponibilidade mental para aceitar críticas vindas de superiores, pares ou subordinados.
- Deve reagir, replicar, mas deve saber evitar a retaliação sistemática.
- O Homem SONAE deve ter em alto apreço o trabalho dos seus subordinados, cuidando permanentemente para que as condições de trabalho e o grau de conhecimento de todos os trabalhadores sejam continuamente melhorados.
- O Homem SONAE deve ser conhecido interna e externamente pela verticalidade do seu carácter.
- O Homem SONAE deve ter elevados critérios de exigência pessoal, com forte devoção às suas tarefas, embora procurando sempre um justo equilíbrio com outras atividades.
- O Homem SONAE deve ter um código ético e deontológico rigoroso.
- O Homem SONAE tem de aceitar o desafio da competição interna e externa, lutar por todos os lugares disponíveis que lhe sejam eventualmente oferecidos, mas também aceitar perder sem ressentimento, daí colhendo melhores ensinamentos para se apresentar em melhores condições numa segunda oportunidade.
- O Homem SONAE procura a excelência e fá-lo pelo somatório das boas decisões que vai tomando diariamente e exclui liminarmente êxitos parciais e comportamentos superficiais e atos de fachada. Tem de ser adulto no pensamento, firme, sem ser duro, na decisão, corajoso, sem ser aventureiro, na ação.
*Coordenadora do Mestrado em Gestão do Potencial Humano do ISG
**Varela, M.; Lopes Dias, A. & Lopes Costa,J. (Eds).(2013).Excelência Organizacional. Lisboa:bnomics.