Select Page

O patriarcado em tempos de guerra!

7 de Janeiro, 2019

Depois de mais uma época alta de festas, desde o Natal até à entrada num novo Ano, encontramo-nos num período de saldos. Em qualquer um destes momentos temporais assistimos e participamos numa euforia consumista quer em certos momentos com objetivos externos (presentes para terceiros) quer noutros com finalidades internas (benefícios para nós) e movimentados por necessidades próprias ou relacionadas com motivos de estatuto, aparência, amizade, sensibilidade ou outros.

No entanto, independentemente das razões apresentadas, existem definidos economicamente vários determinantes que nos levam a consumir e que portanto, afetam a nossa procura/demanda por um determinado bem ou serviço, sendo obviamente um deles e de modo prioritário, o correspondente preço.

Assim, mantidos os restantes fatores constantes, quanto mais elevado for este menor será a quantidade procurada e quanto menor for o mesmo, mais se consumirá, verificando-se pois uma relação negativa entre as duas variáveis preço e quantidade, tendo tal conjetura a designação de lei da procura através de um movimento ao longo da correspondente curva o que acontece sempre que as duas condições se alteram.

Tal ocorre porque se o preço aumentar mantendo-se por exemplo o nosso rendimento, perdemos poder de compra ou o interesse por entendermos que certo bem ou serviço não usufrui da utilidade relativa ao novo valor, o que provoca uma diminuição da quantidade demandada. Excepcionalmente, dois tipos de bens não obedecem a esta lei visto a relação entre preço e procura ser positiva, nomeadamente os bens de Giffen e de Veblen.

Os primeiros, por serem igualmente bens inferiores (caso da salsicha – se o preço reduz vamos restringir o seu consumo para utilizar este dinheiro na aquisição de um bem melhor) e os segundos, por possuírem um fundamento de ostentação (caso de uma jóia ou de um automóvel topo de gama – quanto maior for o preço mais interesse temos em obter o bem pela sua exclusividade ou pelo estatuto que adquirimos).

Outro dos fatores que influencia a nossa procura é o rendimento que dispomos ou se quisermos, o nosso poder de compra. Por regra, quanto mais receita temos mais poderemos gastar devendo destacar-se três modalidades de bens, os normais, os superiores e os inferiores.

Nestes termos, se gozamos de capacidade financeira iremos assegurar os produtos que percepcionamos como plenamente satisfatórios das nossas necessidades isto é, que habitualmente entendemos como mais adequados (bens normais – são a maioria dos bens, caso de uma viatura automóvel para as nossas deslocações com maior conforto e celeridade). Logo, quanto maior for o nosso rendimento mais bens normais consumiremos em conformidade com o mesmo.

Todavia, se a ampliação da demanda de certo bem é mais que proporcional ao nosso rendimento encontramo-nos perante um bem de luxo ou superior designado igualmente, conforme supra visto, como bem de Veblen (comparativamente ao bem normal e como já indicado, uma viatura automóvel topo de gama) sucedendo uma relação positiva entre incremento do rendimento e procura destes dois bens já que o crescimento dos ganhos aumenta a quantidade procurada proporcional dos mesmos (bem normal) ou mais que proporcional (bem superior).

Contudo e em contradição com a relação positiva entre rendimento e procura, surge-nos o bem inferior (também denominado como bem de Giffen) cujo acréscimo do rendimento baixa a sua quantidade demandada aumentando a mesma se a capacidade financeira decrescer. Ou seja, se sofrermos uma diminuição da nossa receita teremos que a guardar na garagem ou desfazermo-nos da nossa viatura automóvel e deslocarmo-nos de transportes públicos (bem inferior).

Temos igualmente o preço do bem relacionado, vigorando neste coeficiente duas novas categorias de bens, os substitutos e os complementares. Nos primeiros, quando o custo deste bem aumenta é substituído por um seu similar, caso da manteiga e da margarina ou da carne de vaca e de frango. Ou seja, se o preço da manteiga ou da carne de vaca for incrementado aumentará a procura por parte dos consumidores por margarina e carne de frango respectivamente, que desempenham a mesma função. Deste modo, os bens ou serviços que tiverem um acréscimo no seu valor serão trocados por outros semelhantes.

Quanto aos bens complementares cuja utilidade é potenciada pela utilização cumulativa de ambos, a subida do preço de um provoca a diminuição dos dois e vice versa, como é o caso do aumento da cotação dos combustíveis e a correlativa queda da compra de automóveis ou a elevação da importância a pagar relativa à batata frita e a consequente descida do consumo de bifes ou hamburgueres.

Manifesta-se assim uma relação positiva entre o preço de um bem e a quantidade procurada do seu bem substituto já que o preço e a quantidade se modificam no mesmo sentido (subida do preço do bem e ampliação da quantidade procurada do seu substituto, descida do preço do bem e decréscimo da quantidade procurada do seu substituto) sendo esta negativa quanto à complementaridade visto as duas variáveis se alterarem em direção inversa (acréscimo do preço do bem provoca menor utilização do seu complementar e abaixamento do seu montante pecuniário origina dilatação do uso do complementar).

A dimensão do mercado ou seja, o número de interessados em adquirir um certo bem ou serviço influencia também obviamente o seu preço e a quantidade isto é, quanto mais habitantes uma região possuir maior será a sua procura. Não existirão desta forma dúvidas de que haverá por exemplo, mais procura por serviços de restauração num Centro Comercial do que num local isolado, devendo o restaurante instalado na Grande Superfície apostar mais em preços baixos enquanto o segundo na qualidade gastronómica.

A demanda é inclusivamente afetada pelas influências especificas, nomeadamente épocas como a do Natal/Ano Novo onde nos deliciamos por exemplo com sonhos, rabanadas, bolo rei ou azevias de grão, ou condições climatéricas ou demográficas que nos fazem utilizar vestuário mais quente no inverno e mais leve no verão, chinelos e fatos de banho em zonas de praia, botas de montanha em áreas de serra e guarda-chuvas em momentos de precipitação.

Ficando ainda a procura dependente das nossas expectativas, negativas ou positivas. Diga-se que nada de momento se verificou e é possível que nem aconteça mas encontramo-nos à espera que determinada situação suceda. Se formos optimistas ou tivermos motivos pela análise do meio envolvente começamos de modo antecipado a aumentar a nossa procura, caso da forte esperança numa melhoria do ordenado ou de progressão na carreira. Mas se formos pessimistas ou tivermos a percepção adversa, iremos dosear a correspondente demanda por forma a não sermos apanhados desprevenidos.

Por fim, os gostos. Estes representam uma variedade de interferências, culturais, históricas, religiosas e encontram-se relacionados com o meio envolvente onde nos encontramos inseridos e são fortemente subjetivos porque dependem especificamente das nossas preferências. Um judeu por exemplo, não come carne de porco considerando-a inclusivamente impura, os indianos não comem carne de vaca pois é sagrada, os chineses alimentam-se de cão ou gato, ficando na prática qualquer um dos outros determinantes subjugados a este último.

Isto é, se não gostarmos de peixe, é irrelevante se baixa ou diminui de preço, se existe algum bem que o substitua ou complemente, se dispomos de rendimento para o adquirir ou se o mesmo é consumido nalgum evento que frequentemos, como é o caso da festa da sardinha em Portimão, pura e simplesmente nenhum dos fatores nos influenciará na menor ou maior demanda do bem ou serviço pois simplesmente não o procuraremos.

No que se refere às mutações na curva da procura e ao contrário do que se verifica no preço do bem ou serviço, cuja alteração de valor modifica por efeito consequente a quantidade demandada através de um movimento ao longo da própria curva, em qualquer um dos outros fatores analisados (rendimento, preço do bem relacionado, dimensão do mercado, influência específica, expectativa e gosto) a única variável que sofre oscilação é a quantidade já que o preço inicialmente se mantém, ocorrendo desta forma uma deslocação da curva da procura, para a direita se a medida demandada aumentar e para a esquerda se a mesma diminuir.

Assim, se ambos os pressupostos (preço e quantidade procurada) forem alvo de modificação ocorre um movimento do ponto inicial ao longo da curva da demanda para um novo ponto na mesma curva, para cima e para a esquerda se o preço acrescer e a proporção em decorrência decrescer ou para baixo e para a direita se o preço baixar e a proporção em resposta subir. Caso a razão da alteração seja um dos outros motivos mantendo-se o montante a pagar pelo bem ou serviço (com mudança apenas na dimensão procurada), sucederá uma deslocação da curva do local em que se encontrava para um outro mais à direita ou à esquerda, em conformidade com o explicado no parágrafo anterior.

Miguel Furtado
Professor Universitário

Outras Notícias

O patriarcado em tempos de guerra!

Se em momentos de paz as mulheres são vítimas de abusos sexuais como resultado de uma sociedade altamente patriarcal e desorganizada, em momentos de guerra os abusos contra este género tendem a aumentar em grande escala, sendo os maiores alvos de violência que o...

ISG na Tomada de Posse da Direção da Ordem dos Economistas

O Instituto Superior de Gestão esteve presente na Tomada de Posse da Direção da Ordem dos Economistas, no dia 10 de janeiro, na Reitoria da Universidade de Lisboa. Este prestigiado evento promovido por um dos grandes parceiros da nossa Instituição contou com o Diretor...

Começam Palestras Criar Saberes 2024 | 2025

As palestras do Criar Saberes 2024 | 2025 arrancaram em grande no INETE! No dia 16 de Dezembro 2024, os estudantes da turma de 12° ano do curso de TC Contabilidade-TC22 e Gestão TG22 tiveram a oportunidade de acompanhar a palestra da Professora Doutora Rosa Rodrigues,...

GACE recebe 224 contactos de ajuda em 2024

O Gabinete de Apoio ao Consumidor Endividado do Grupo Ensinus – GACE durante o ano de 2024 recebeu 224 contactos de ajuda. Este serviço prestado gratuitamente aos consumidores disponibilizou informação constante no site da Direção Geral do Consumidor e do Banco de...

Sugestões de Leitura

Com o objetivo de refletir sobre os valores do ISG e sobre o compromisso com o debate sobre temas cruciais para a sociedade e para o setor da educação a nível nacional e internacional, partilhamos duas sugestões de leitura da Administradora do Grupo Ensinus, Dra....

How important are human resources in economic growth?

O mais recente Artigo Científico dos Docentes do ISG e Investigadores do CIGEST, Mestre Ana Lúcia Luís e Professor Doutor Jorge Vasconcellos e Sá foi publicado no Edelweiss Applied Science and Technology. Pode consultar o artigo em:...