Select Page

Uma brisa que passou Carlos Vieira, professor no ISG

29 de Março, 2019

E é assim. De repente parece que se perde uma oportunidade. Leio o que leio na comunicação social. Pedem-me para escrever sobre empresas e empreendedorismo. E empreendedorismo é também saber assumir erros (próprios ou de terceiros) e saber cair com “graciosidade” e com indicações que “para a próxima já não se cometerão os mesmos erros”. Será?

Leio na comunicação social sobre o facto de certos credores terem conseguido o controlo acionista da Auto Estradas Douro Litoral e da Brisal, pertencentes à Brisa, após terem adquirido, a desconto (ou com o já famoso “haircut”, fala-se em 80%), créditos que lhe permitiram fazer o “step in” no capital da empresa. E adquiriram-no associando-se a empresas tão seletas como o Deutsche Bank, o JP Morgan e o Banco Europeu de Investimento (Público, 24/01/2019).

Importa recordar também que a própria Brisa já tinha colocado o Estado português em tribunal, por razões de reequilíbrio financeiro, tendo este sido condenado a pagar 220 milhões. É obra!

Este tema permite-me dizer que, de facto, num negócio ou num investimento que, por determinadas razões não corre como o esperado, pode sempre existir um conjunto mínimo de ativos que conduzem ou autorizam um ajustamento. Por vezes este ajustamento obriga a que credores que, por norma, não trabalham em situações de stress financeiro, cedam as suas posições a terceiros, sejam eles considerados “abutres” ou não. E aqui o digo. Hoje que se discute a necessidade de se recuperar a competitividade de determinadas regiões do país, não seria porventura interessante o Estado português adquirir esta posição destes fundos, remetendo estes ativos para os respetivos municípios para gestão (promovendo a redução dos custos de contexto de quem aí vive e trabalha)? Há de facto uma oportunidade única nestes momentos originados por crises globais ou específicas que importa manter no radar.

O mesmo se pode dizer do Sporting Clube de Portugal e do seu Grupo. Na semana passada assisti ao anúncio de um financiamento que serviria para pagar créditos vencidos, na SAD. Neste artigo, em que escrevo como docente do ISG, e para não me acusarem de revelar informação confidencial, reporto-me aos recentes relatórios de gestão, prospetos divulgados e ao artigo de Bruno de Carvalho (DN, 30/04/2018) e à entrevista de Carlos Vieira (o VP do SCP, que sou eu, mas agora não sou, também no DN, mas de 22/06/2018), para lamentar que não se tenham conseguido concretizar os acordos que permitiriam uma reestruturação (já estou tão farto desta palavra!) efetiva.

Para não me alongar muito, a base desse acordo era i) situar a operação de titularização de créditos na Sporting SGPS (que é detida a 100% pelo Clube), que iria comprar os créditos detidos pelo BCP e Novo Banco sobre a SAD e o Clube (cerca de € 150M de empréstimos e € 135M de VMOCs – obrigações convertíveis em ações) por um valor de, no máximo, € 150M; ii) a SAD e o Clube ficariam a dever os seus créditos à SGPS pois um haircut direto dos bancos aquelas originaria muito possivelmente IRC a pagar; iii) como a SGPS deve ao Clube cerca de € 70M, acertavam-se as contas e o Clube, sem mais, ficava sem dívida bancária e “arrumadinha” beneficiando os seus mais de 170 mil sócios; iv) a SGPS ficaria com € 135M de VMOCs adquiridas a um baixo valor que, se interessasse ao Sporting, poderia transformar em ações ou vender com ganhos a parceiros a sério; v) todas as restantes garantias prestadas aos bancos ficariam libertas. Note-se que, a SAD não pode adquirir ações ou VMOCs próprias e não pode emprestar dinheiro a terceiros com o objetivo único de as comprar (a designada “simulação”).

Assim, a exemplo da Brisa, ou do Estado português, parece que se pode vir a perder uma oportunidade. Daquelas que passam poucas, ou nenhumas vezes. O que me ainda me mantém esperançoso é que quem nos governa se mantenha alerta. No caso do Estado, vêm aí eleições…. No caso do Sporting, no comunicado à CMVM está escrito que a “Sporting SAD [pode]recuperar a titularidade ou benefício económico dos créditos”. Ainda estamos em tempo. No entanto deixo a minha dúvida. Sendo quem gere agora estes processos um homem da banca (e que a ela necessariamente regressará) porque não manteve os contratos com quem negociava “agressivamente”, à “abutre” (mas do lado certo da barricada)? Porque será que rescindiram esses contratos? Porque será? Desta vez não será certamente do guaraná.


* Professor convidado do ISG – Instituto Superior de Gestão, em cursos de licenciatura e mestrado, Carlos Vieira é  licenciado em Administração e Gestão de Empresas, pela Universidade Católica Portuguesa (1996) e doutorando em Business Administration no ISCTE – IUL. Fez uma pós-graduação em Gestão e Organização Industrial, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (2000), e frequentou o mestrado em Gestão, no ISG – Instituto Superior de Gestão (2009), só com conclusão da parte curricular.

Profissionalmente, pertenceu aos quadros Price Waterhouse e de uma associada; integrou os quadros da Vodafone Telecel, tendo desempenhado as funções de Manager no departamento de Planeamento e Controlo Financeiro; desempenhou atividade docente no ISCAD-Instituto Superior de Ciências da Administração e na ULHT-Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias; pertenceu aos quadros da Media Capital, como diretor de Contabilidade e diretor de Tesouraria do Grupo; foi administrador do Grupo Unisla; e ainda administrador do Grupo Ensinus.

A este percurso junta-se, ainda, entre março 2013 e junho 2018, os cargos de vice-presidente do Sporting Clube de Portugal, com o pelouro financeiro (e desde março de 2017 também com o pelouro do património), e de administrador da Sporting Clube de Portugal-Futebol, SAD. Além disso, é vice-presidente da ANESPO -Associação Nacional de Escolas Profissionais e membro da direção da CNEF- Confederação Nacional da Educação e Formação. Assume também a presidência do Conselho de Fundadores da FLAV-Fundação Luís António Verney e é membro da Ordem dos Economistas e da Ordem dos Contabilistas Certificados.

Outras Notícias

Open Day Licenciaturas ISG 2025

O Open Day Licenciaturas ISG 2025 já tem data marcada e tu já podes garantir a tua presença! Agora vais poder experimentar as diferentes áreas das Ciências Económicas e Empresariais, navegar pelas nossas instalações por ti ou através do teu smartphone, tirar todas as...

ISG vai estar na Futurália 2025

É já para a semana que nos podes visitar na Futurália! De 26 a 29 de março de 2025, passa pelo nosso stand e vem conhecer a melhor oferta formativa da primeira Business School em Portugal. Agarra nos teus amigos e vem ter connosco!O Futuro Começa Aqui!

Desafios à formação docente no setor da educação em Angola

A Senhora Administradora do Grupo Ensinus, Dra. Teresa Damásio, juntamente com o assessor da administradora, Mestre João Magalhães, publicaram um artigo na Revista Científica de Estudos Multidisciplinares do Planeta Central (REME), pertencente ao ISUPEKUIKUI II. Pode...

“The causes of economic growth: Revisiting our ignorance”

O Artigo Científico do Docente do ISG e Investigador do CIGEST, Professor Doutor Jorge Vasconcellos e Sá e da Docente do ISG e Investigadora do ISG, Mestre Ana Lúcia Luís, publicado na Edelweiss Applied Science and Technology, já se encontra disponível para leitura....

O patriarcado em tempos de guerra!

Se em momentos de paz as mulheres são vítimas de abusos sexuais como resultado de uma sociedade altamente patriarcal e desorganizada, em momentos de guerra os abusos contra este género tendem a aumentar em grande escala, sendo os maiores alvos de violência que o...

Candidaturas Abertas para Estágios Blue Book

Gostavas de dar os primeiros passos para começar uma carreira nas instituições Europeias? As candidaturas para os estágios Blue Book estão ABERTAS! Sabes o que são os estágios Blue Book? - Estágio remunerado de 5 meses - Início em outubro de 2025 Podes candidatar-te...

ISG na Feira Unlimited Future Lisboa

O ISG esteve presente em mais uma edição da Maior Feira de Mestrados e Pós-Graduações - Unlimited Future. Durante todo o dia, a equipa do ISG esteve totalmente dedicada a esclarecer todas as dúvidas e as melhores opções para continuar os estudos!