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Pandemia: E Depois do Adeus?

4 de Maio, 2020

O nível de incerteza da atual conjuntura impede a eficiência dos modelos econométricos mais completos e complexos e fazer previsões a mais de um mês torna-se meramente um exercício académico.

Durante as últimas semanas, foram várias as organizações e instituições a publicar inúmeros estudos previsionais sobre o impacto da pandemia nas diversas zonas económicas do mundo.

Esses estudos são unânimes na redução do PIB, em todo o mundo, durante 2020.

No que toca à economia portuguesa, as variações anunciadas divergem bastante, entre quebras do PIB, em 2020, de 3% até 20%, entre as mais otimistas e as mais pessimistas. De acordo com as várias previsões, também o desemprego tenderá a aumentar para o dobro e até para o triplo, nos piores cenários.

Claro que estas variações não serão lineares nas cerca de duas centenas de sistemas económicos no mundo, pois as estruturas de cada país têm diferentes capacidades de recuperação e dependências de setores-chave e ramos de atividade distintos.

De facto, a economia está longe de ser uma ciência exata e como ciência social está sujeita ao comportamento de inúmeras variáveis, sendo grande parte delas não matematizáveis. Portanto, no que toca a previsões, a abundância de cenários e, consequentemente de opiniões, é muito vasta.

Os primeiros dados concretos, publicados esta semana pela Eurostat, não falam de previsões ou cenários, mas apresentam dados concretos. Certo é que o PIB da Zona Euro caiu 3,8% no primeiro trimestre face ao último trimestre de 2019 (variação em cadeia), segundo o Eurostat. Trata-se da maior queda considerando as séries de dados trimestrais desde 1995. Se considerarmos apenas a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior (variação homóloga) a queda foi de 3,3%.

Ainda segundo o Eurostat, França registou a maior queda homóloga trimestral do PIB desde há 50 anos, tendo a economia retraído 5,4%.

Também a inflação na Zona Euro abrandou de 0,7% em março para 0,4% em abril (desinflação), em termos homólogos, correspondendo à taxa mais baixa desde 2016, ano em que se registou uma redução de preços (deflação) no primeiro trimestre. Várias economias europeias já registam quebras de preços entre 1,2% e 0,6%, como a Finlândia, Luxemburgo, Letónia, Irlanda, Grécia, Espanha, Eslovénia ou Chipre. Importante será notar que do cabaz de referência, em abril, os produtos alimentares na Zona Euro registam uma subida de preços de 7,7% e, em sentido inverso, os produtos energéticos, uma queda de 9,6% nos preços.

O nível de incerteza da atual conjuntura impede a eficiência dos modelos econométricos mais completos e complexos e fazer previsões a mais de um mês torna-se meramente um exercício académico. Um segundo surto da covid-19 antes do final de 2020, a ocorrer, poderá mudar radicalmente qualquer previsão, para um cenário ainda mais catastrófico. Por outro lado, uma reabertura da economia e uma recuperação dos índices de confiança, controlando a epidemia ou surgindo e estando disponível uma vacina no curto/médio prazo, poderão minorar bastante qualquer efeito da previsível recessão. Também o prazo estimado para a recuperação poderá variar entre um a três anos.

Quanto mais tempo demorar a retoma das atividades económicas, mais certo será não “morrer da doença, mas morrer da cura”.

Quanto mais tempo demorar a retoma das atividades económicas, mais certo será não “morrer da doença, mas morrer da cura”. Certo que a saúde pública e de cada um de nós é absoluta prioridade, mas em que novo sistema social e económico vamos sobreviver e que saúde teremos se tudo colapsar? “Vamos querer saber quem somos e o que fazemos aqui?”

Professor Doutor Miguel Varela, Diretor do Instituto Superior de Gestão para o Jornal de Negócios.

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