A World Investor Week (Semana Mundial do Investidor) é uma iniciativa global criada pela IOSCO em 2017, com o objetivo de sensibilizar e alertar para a importância da educação financeira e da proteção dos investidores. A CMVM associa-se novamente à iniciativa que tem este ano como tema “ A informação é o seu ativo mais valioso”.
Os temas a desenvolver visam, por um lado, ajudar os investidores a enfrentarem a incerteza decorrente da crise pandémica e, por outro, a refletir sobre o contributo que o mercado de capitais pode oferecer à economia.
A OCDE aprovou, no dia 29 de outubro 2020, a Recomendação sobre Literacia Financeira (“OECD Recommendation of the Council on Financial Literacy”) que inclui um conjunto de princípios e recomendações em três áreas:
Conceção de estratégias nacionais de educação financeira;
Desenvolvimento de programas de educação financeira em áreas específicas, como poupança, investimento, planos de pensões, crédito e seguros;
Implementação de estratégias nacionais e de programas de educação financeira.
Nesta recomendação, a OCDE considera que a literacia e a inclusão financeiras, aliadas a uma adequada regulação e proteção do consumidor, são fundamentais para aumentar a resiliência financeira e o bem-estar da população.
O best-seller de Benjamin Graham “The Intelligent Investor”, editado em 1949, veio alterar as perceções dos conceitos de investimento, muito assentes em especulação e em ganhos rápidos.
De acordo com Graham, o investidor inteligente deve compreender sempre as várias opções existentes e os vários graus de risco associados no contexto da estratégia Value Investing.
As teorias financeiras tradicionais pressupõem que os seres humanos são seres completamente racionais nas suas tomadas de decisão, avaliando cuidadosamente e sem dificuldade todos os factos e evidências, antes de tomarem qualquer decisão, maximizando, assim, os seus objetivos.
Um mercado perfeito estaria dependente de decisões absolutamente racionais, não afetadas por custos, impostos ou comissões em que existisse verdadeira eficiência informativa – porque a informação está disponível livremente e de forma célere, incorporando-se nos preços.
Da parte dos investidores, se todos estes tivessem racionalidade completa os mercados financeiros seriam eficientes. A realidade é diferente, a resposta das finanças comportamentais baseia-se nos enviesamentos cognitivos, emocionais e sociais que os investidores manifestam na prática.
Neste sentido, as finanças comportamentais apelam à compreensão:
- de como os enviesamentos cognitivos e emocionais do processo de decisão afetam os investidores.
- como é que os investidores com racionalidade limitada interagem nos mercados financeiros com decisores racionais, que por sua vez sofrem limitações na sua atuação.
- de como da interação entre estes dois grupos podem resultar preços que se podem afastar da condição de eficiência.
Por outro lado, a nova Diretiva dos Mercados de Instrumentos Financeiros (DMIF II) enfatiza, as características individuais dos investidores – por exemplo, aspetos relacionados com a personalidade, idade, situação patrimonial e outras circunstâncias pessoais – terão de ser consideradas aquando da definição das estratégias de investimento. Uma correta caracterização dos investidores – com base na sua experiência, capacidade e tolerância ao risco – deve estar sempre presente no processo de adequação dos investimentos.
A OCDE, em 2020, no documento do projeto de educação financeira salienta a sua importância definindo um conjunto de competências organizadas nas seguintes dimensões:
– Consciência e conhecimento: informações adquiridas pelo investidor, como comissões, características e riscos de produtos de investimento comuns;
– Capacidades e comportamentos: capacidade de agir de maneira a obter resultados positivos, usando os comportamentos que provavelmente levam ao bem-estar financeiro, por exemplo, avaliando o retorno real dos investimentos antes de selecionar um produto de investimento;
– Atitudes, confiança e motivações: os mecanismos psicológicos internos que podem dificultar/apoiar a tomada de decisão informada e o bem-estar financeiro, por exemplo a crença dos investidores de retalho de que o desempenho passado de um investimento é uma indicação de retornos futuros.
Da prática sabe-se que poucos investidores são suficientemente disciplinados para manter padrões rigorosos de avaliação e aversão ao risco num contexto de incerteza.
Os investidores nunca deixarão de ser suscetíveis aos vieses comportamentais refletindo-se nas preferências, opiniões e expetativas que ditam a sua atuação nos mercados e que, em última análise, definem os próprios preços.
Por isso, a educação e a literacia financeira devem reforçar a formação e gestão na vertente comportamental das dimensões cognitiva, emocional e social que permitirão entender melhor as decisões financeiras que todos nós tomamos ao desafiarmos o modelo de “Homo Economicus”.
Como afirma Graham, o principal problema do investidor – e talvez o seu pior inimigo – é ele próprio.