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A identidade profissional docente

27 de Dezembro, 2021

Ser professor no século XXI. Uma preocupação cada vez maior com o decréscimo progressivo do número de alunos inscritos em cursos do ensino superior para formação de docentes.

“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais…”
Rubem Alves, in Alegria de Ensinar (1994)

A tendência tem vindo a inverter-se ligeiramente nos últimos quatro anos, mas não chega para compensar a quebra de duas décadas em que o decréscimo com a identidade docente foi de quase de 70% desde o início do século.

Este ano entraram 1100 alunos em licenciaturas de formação de docentes no concurso de acesso deste ano. Por algum motivo as escolas só conseguiram ocupar 8% dos horários para professores em contratação direta. Na semana passada estiveram a concurso 684 lugares para professores com horários de oito ou mais horas de aulas semanais. Destes lugares, apenas 57 foram preenchidos.

Falar de profissionalização docente não pode, pois, prescindir de um olhar atento sobre a pluralidade característica não apenas do público atendido pela escola, mas também dos  sujeitos que, incitados por diferentes motivações, escolhem a docência como profissão e têm esse campo específico para atuação.

Ainda há muitos professores para quem a docência está ligada ao dom, à vocação. Independente do segmento no qual atuam, ou da formação específica que têm, há professores, quase que com unanimidade, apostam no gosto, no prazer e no dom como essenciais para a escolha da profissão docente e para trabalharem diariamente para o sucesso das aprendizagens dos seus alunos. E esse dom destacou-se em muitos professores durante estes quase dois anos que vivemos em circunstâncias e condições bem diferentes da “normalidade” e em que  sobretudo as competências pessoais, emocionais e sociais muitas vezes eram as que mais se destacavam.

Por um lado, é preciso recuperar o prestígio e a importância da figura do professor a nível social, perante os alunos e encarregados de educação. Por outro lado, é de extrema relevância melhorar a formação de professores ao nível das suas competências pessoais e interpessoais, nomeadamente de liderança, gestão da inteligência emocional, mediação de conflitos, coaching. Assume cada vez maior necessidade o acréscimo ou modificação dos critérios de seleção docente, dando mais importância à atitude, estilos de comunicação, competências pessoais, sociais e interpessoais do que tem vindo a ser valorizado. Também se torna cada vez mais premente redefinir por completo as metodologias de ensino de modo a que estas se adaptem ao desenvolvimento de competências previstas para o perfil do aluno do século XXI.

A preocupação de definir um perfil, sobretudo com todos os desafios inerentes ao quadro que todos possam partilhar e que incentive e cultive a qualidade torna-se importante para serem criadas as condições de equilíbrio entre o conhecimento, a compreensão, a criatividade e o sentido crítico num mundo de cada vez maior diversidade e incerteza. A Resolução do Conselho de Ministros n.º 30/2020, que define e esclarece sobre o Plano de Ação para a Transição Digital, refere, explicitamente, “uma forte aposta na capacitação de docentes, formadores do Sistema Nacional de Qualificações e técnicos de tecnologias de informação em cada escola, através de um plano de capacitação digital de professores, que garanta a aquisição das competências necessárias ao ensino neste novo contexto digital” (Resolução do Conselho de Ministros n.º 30/2020).

Numa sociedade humana imperfeita de desigualdades, não se pretende desenvolver uma fórmula perfeita, mas sim promover a complementaridade e o enriquecimento mútuo e a formação de pessoas autónomas, proativas e responsáveis. Pretende-se a necessária flexibilidade no aprender a conhecer, no aprender a fazer, e no aprender a viver juntos e a viver com os outros. Isto obriga a colocar a educação durante toda a vida como um pilar necessário da sociedade – pela compreensão das múltiplas tensões que condicionam a evolução humana. Tudo nos obriga à recusa de receitas iguais para todos ou de rigidez de estratégias diárias aplicada às práticas e a um apelo incessante a pensar e a criar um destino comum humanamente de complementaridade.

“É neste contexto que a Escola, enquanto um ambiente propício à aprendizagem e ao desenvolvimento de competências, possa constituir um ligar pleno de valores, afetos e princípios em que os alunos poderão adquirir as múltiplas literacias que precisam de mobilizar, e conseguirem responder às exigências destes tempos de imprevisibilidade e de mudanças aceleradas.

Finalmente, importa cada vez mais estreitar e fortalecer o estabelecimento de sinergias entre professores, através de trabalho verdadeiramente colaborativo e práticas de aula supervisionada, entre a escola e outras instituições, tais como empresas, universidades, fundações educacionais, municípios, etc.” (Neves, 2019, Ser Professor, A Alquimia do Conhecimento e Emoção, Legis Editora).

“Se uma pessoa ensina durante trinta anos, ela não faz simplesmente alguma coisa, ela faz também alguma coisa de si mesma: sua identidade carrega as marcas de sua própria atividade e uma boa parte de sua existência é caracterizada por sua atuação profissional, como também sua trajetória profissional estará  marcada pela sua identidade e vida social, ou seja, com o passar do tempo, ela tornou-se – aos seus próprios olhos e aos olhos dos outros – um professor, com sua cultura, seu éthos, suas ideias, suas funções, seus  interesses etc” (Tardif, 2000).

Professora Doutora Lurdes Neves, Coordenadora da Pós-Graduação em Gestão Escolar para o Link to Leaders

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