“Esta é a vitória da tolerância, esta é a vitória da liberdade!” Mário Soares, 1986. Nunca podemos esquecer o 25 de abril, nunca podemos esquecer as suas conquistas e o que esta revolução representou para aquilo que construímos até agora, para aquilo que queremos para o futuro do nosso país.
O 25 de abril foi mais do que uma revolução, foi um grito contra a ditadura, contra tudo aquilo que coloca em causa a Declaração Fundamental dos Direitos Humanos. É unânime o que representa para o nosso país e para os portugueses, abril é de uma magnitude sem antecedentes. Os 50 anos desta efeméride continuam a ser sinónimo de prosperidade, liberdade, emancipação, recomeço, revigoramento socioeconómico.
Este mês assinalam-se os 50 anos do 25 de abril e, mais do que nunca, perante o contexto social e económico que vivemos em Portugal, e um pouco por toda a Europa, nunca foi tão importante reforçar o marco que este dia teve para a história do nosso país. Só quem viveu pode constatar o que se sentiu durante 48 anos antes do eufemismo a que chamamos “Revolução dos Cravos”. Portugal viveu sob uma ditadura disfarçada em que a vida dos portugueses era assombrada com medo daquilo que se podia dizer. Ter mais de três pessoas juntas num café já era considerado suspeito, algo que hoje em dia, para nós, é inimaginável.
O 25 de abril de 1974 foi mesmo uma verdadeira revolução, embora, sem necessidade de recorrer à força física, podemos dizer que foi uma força anímica. Se pesquisarmos a palavra revolução no dicionário, encontramos a definição que remete para uma “mudança brusca e violenta na estrutura económica, social ou política de um Estado”. É uma perturbação moral, agitação e uma indignação sobre o status quo das regras. As ruas naquele dia encheram-se de pessoas, de esperança de um mundo novo, de novas oportunidades para todas e todos e, sobretudo, a oportunidade para sermos livres! Esta foi sem dúvida a nossa maior e mais difícil conquista até aos dias de hoje!
As novas gerações apenas ouvem falar pelos avós e familiares mais próximos do que representa viver em ditadura, mas ler e viver num regime desta ideologia representa uma grande diferença. O lirismo de que se fala do 25 de abril fica muito aquém para quem o viveu na pele. Não podemos romantizar a história para que ela não se volte a repetir.
Em época de ditadura tudo é um retrocesso, a precariedade social e económica daqueles tempos são um retrato do que aquele regime condenou o nosso país durante vários anos. Níveis baixos de educação e literacia, elevados índices de pobreza e grandes disparidades sociais. Dificuldades no acesso a cuidados básicos de saúde, dificuldade no acesso à habitação condigna, não se podia amar alguém do mesmo sexo, era um perigo para aqueles que tentassem sequer pensar nesta hipótese. Tudo era escondido, tudo era vivido em clima de medo e ansiedade. E a mulher, esta era reduzida ao seu papel de mediocridade, enquanto esposa, mãe e dona de casa. Ser mulher era estar condenada ao fracasso, era uma condição limitativa na medida em que não tinham livre-arbítrio sobre a sua própria vida. Daí a importância dos movimentos feministas nos dias de hoje.
E por falar em hoje, fruto da revolução, encontro-me numa posição privilegiada, pois escrevo, livremente, enquanto mulher, filha, empresária, mãe de três filhos dos quais me orgulho muito. Cada vez mais percebemos que não podemos ir longe num mundo onde estejamos “orgulhosamente sós”, como defendia Salazar à época. As empresas que dirijo na área da Educação são exatamente o contrário daquilo que está preconizado nesta frase. Mas, nos 50 anos da Democracia continuamos a ter de refletir sobre o futuro incerto que vem ser comprovado pelo mais recente resultado das legislativas. Cabe-nos a nós, portugueses, num país de história e às gerações vindouras que continuemos a lutar pela liberdade, que não se esqueçam dos cravos de abril, que não se esqueçam do caminho difícil que percorremos até aqui. A Europa, o mundo, estão mais frágeis, muitas vezes parecendo que estamos num retrocesso das nossas conquistas. Não podemos deixar que “a história se repita”.
O livro “O essencial da política portuguesa” mostra através de dados empíricos que Portugal tem condições para o sucesso de discursos populistas, mostrando que a Democracia é frágil. Devemos estar alerta, pois “quem adormece em democracia, um dia pode acordar em ditadura”.
Um estudo da European Council on Foreign Relations (ECFR) “A sharp right turn: A forecast for the 2024 European Parliament elections” revela-nos que existe uma tendência progressista dos regimes de extrema-direita na Europa. Itália com a subida abrupta dos Irmãos de Itália de Meloni, a Hungria com o governo de Fidesz, desde 2010, na Suécia os democratas suecos que têm vindo a ganhar cada vez mais populismo, desde as eleições de 2022. Na Finlândia com o Partido de Coligação Nacional, um liberal conservador de centro[1]direita, e mais partidos têm vindo a crescer um pouco por toda a Europa.
Devemos refletir sobre aquilo que acontece ao nosso lado, sobre a história, pois, como disse Mário Soares no seu discurso de vitória nas presidenciais de 1986: “Esta é a vitória da tolerância, esta é a vitória da liberdade!”. Que continuemos este legado, sem nunca esquecer que a história não é assim tão distante quanto parece.
Dra. Teresa Damásio, Administradora do Grupo Ensinus para o Link to Leaders