Amanhã, 5 de novembro, acontecem as tão esperadas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América, que ficam marcadas por uma série de acontecimentos que devem ser analisados ao detalhe e que podem ditar a vitória de um dos candidatos: de um lado, o Republicano e ex-presidente, Donald Trump; do outro, a atual Democrata e vice-presidente, Kamala Harris.
Face aos últimos acontecimentos, penso que estamos em condições de afirmar que estas talvez sejam as eleições presidenciais americanas mais imprevisíveis de sempre. Aliás, os dados mostram-nos isso mesmo, principalmente, desde que Kamala entrou na corrida.
Ambos os candidatos têm um forte potencial para conseguirem chegar à meta final, a Casa Branca. As suas campanhas ficam marcadas por vários episódios inesquecíveis, nomeadamente, no caso de Donald Trump, que chegou mesmo a ser alvejado na parte superior da orelha, enquanto discursava num comício na Pensilvânia.
A verdade, é que tudo nestas eleições é diferente do que aconteceu em outros tempos!
Uma sondagem realizada pelo Washington Post-Schar School , junto dos Estados comummente chamados de “swing states”, mostra-nos que ambos os candidatos estão empatados nos sete estados decisivos. Os dados revelam que 47% dos inquiridos vão apoiar Harris e 47% apoiarão o candidato Trump, de forma definitiva ou provavelmente. Já entre os prováveis eleitores 49% apoiam Harris e 48% apoiam Trump. Kamala ganha ainda mais força nestes Estados com o forte apoio das mulheres com menos de 30 anos, segundo o mesmo estudo.
O The New York Times avança que Kamala conseguirá 276 votos eleitorais e Trump poderá arrecadar 262 votos do Colégio Eleitoral, mas o número que dita a vitória do próximo presidente dos EUA é o 270, o chamado número mágico que dá lugar ao pódio! Fica assim evidente que ambos os candidatos têm 50% de oportunidades de serem eleitos. Já não assistíamos a uma disputa nas Presidenciais Americanas tão renhida há mais de 50 anos.
Nos últimos dias, Kamala Harris tem vindo a intensificar a sua posição contra Donald Trump, dirigindo-se ao ex-presidente como alguém “instável” e “desequilibrado”. Outro acontecimento bastante recente que está também a marcar a campanha eleitoral da candidata é o facto de afirmar que não pretende dar continuidade à presidência de Joe Biden, o que deixou muitos eleitores incrédulos com a posição da candidata. Ou seja, quando tudo parece apontar para um candidato, há sempre alguma coisa que acaba por mudar de forma inesperada o rumo destas eleições. Talvez, a palavra inesperada possa ser a que mais define estas Presidenciais.
Poderia continuar a fazer uma análise exaustiva a ambos os candidatos e à forma como se têm apropriado dos acontecimentos ocasionais de forma a potenciarem a sua imagem política e chegarem ao maior número de eleitores possível, através das mais diversas estratégias, tentando transmitir-lhes sentimentos de credibilidade e confiança, principalmente nos Estados mais estratégicos que podem ditar a vitória.
Mas, este meu artigo não se resume a uma singela análise política, é mais do que isso. É uma análise sobre como os paradigmas estão a mudar, um olhar sobre como podemos estar prestes a presenciar a mudança no rumo da história, desde que Harris assumiu o comando destas Presidenciais e substituiu Biden!
Embora a candidata tenha entrado a meio da corrida, a mesma deu um sprint em direção à meta e mostrou-nos que as mulheres também podem fazer frente a homens como Donald Trump. A sua possível vitória pode vir a representar o fim da dominação masculina na maior democracia do mundo, constituindo-se num grande marco para as mulheres. Kamala pode vir a tornar-se num símbolo, não só nos EUA, como no mundo. Tal revela que estamos no caminho certo e que uma mulher pode vencer um homem e dar início a um novo legado, que até então era único e exclusivamente dominado pelo sexo masculino.
Caso Kamala assuma a Presidência dos EUA, certamente, assumirá a voz de milhões de mulheres que durante anos estiveram consignadas ao silêncio, mostrando-lhes e encorajando-as a serem capazes de mudar o que até então parecia inalterado e inabalável. Posso afirmar, mais do que uma luta política, falo-vos de uma mudança histórica àquilo a que estamos a assistir confortavelmente no sofá das nossas salas. O mundo está a mudar. Estas eleições são o reflexo de uma sociedade global em que as mulheres começam a ser colocadas em locais de destaque no panorama político, um lugar onde lhes é dada a voz e onde podem ser finalmente ouvidas.
Mas, confesso-vos que vivemos tempos de antagonismos. De um lado são aprovadas leis onde o sexo feminino não pode cantar, recitar ou falar, onde proíbem a sua voz em público, como acontece no Afeganistão, representando um dos maiores retrocessos no século XXI e um completo atentado contra a dignidade humana. Por outro, a emancipação política das mulheres na maior democracia do mundo, representada pela pessoa de Kamala Harris e que pode levar a uma transformação política mundial!
Harris está a contribuir para alterar a forma como o mundo olha para as mulheres, independentemente de a vitória recair, ou não, sobre a candidata. Teremos mais mulheres ousadas como Kamala, que se atiram para uma corrida onde, até então, estavam apenas sentadas a assistir e a aplaudir? Ou estamos perante uma mudança do cenário político mundial, não só nos EUA, mas no mundo, provocando quase que diria um efeito dominó?
Dra. Teresa Damásio, Administradora do Grupo Ensinus para a Link to Leaders